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João Guimarães Rosa – Carta de Manuel Bandeira ‘O romance de Riobaldo’

AMIGO MEU, J. Guimarães Rosa, mano-velho, muito saudar! Me desculpe, mas só agora pude campear tempo para ler o romance de Riobaldo. Como que pudesse antes? Compromisso daqui, obrigação dacolá… Você sabe: a vida é um Itamarati – viver é muito dificultoso. Ao despois de depois, andaram dizendo que você tinha inventado uma língua nova e eu não gosto de língua inventada. Sempre arreneguei de esperantos e volapuques. Vai-se ver, não é língua nova nenhuma a do Riobaldo. Difícil é, às vezes. Quanta palavra do sertão! A princípio, muito aplicadamente, ia procurar a significação no dicionário. Não encontrava. Pena o título: Grande Sertão: Veredas. Nenhum dicionário dá a palavra “vereda” com o significado que você mesmo define à página 74: “Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico. O resto pequeno é vereda.” Tinha vezes que pelo contexto eu inteligia: “ciriri dos grilos”, “gugo da juriti” etc. Mas até agora não sei, me ensine, o que é “arga”, “suscenso”, “lugugem” e um...

O desaparecimento de Josef Mengele

Josef Mengele, o médico nazista que ficou conhecido como Anjo da Morte no campo de concentração de Auschwitz, escolhia o destino de suas vítimas: as câmaras de gás, os trabalhos forçados ou seu laboratório, alimentado diariamente com anões, gigantes, deformados e gêmeos para pesquisas e experimentos macabros. Ele consegue escapar dos tribunais no fim da Segunda Guerra Mundial, mudando-se para a América do Sul em 1949, quando chega à Argentina. Escondido sob vários pseudônimos, Mengele acredita poder levar uma vida nova em Buenos Aires. A Argentina de Perón é benevolente, o mundo inteiro quer esquecer os crimes cometidos pelos nazistas. Mas a perseguição recomeça e o médico precisa fugir para o Paraguai e depois para o Brasil. Sua mudança de esconderijo para esconderijo não cessou até a sua morte misteriosa em uma praia brasileira no ano de 1979. Como um médico da mais temida organização nazista pôde passar despercebido por trinta anos?  O desaparecimento de Jose...

“Os Sertões’ tem que ser lido todos os dias, enquanto persistir a situação dos pobres brasileiros ”

A 17ª Festa Literária de Paraty (Flip) começou nesta quarta-feira bem ao estilo de seu homenageado, Euclides da Cunha: densa, dura e desbravadora de linguagens. Música e literatura misturaram-se em uma noite em que Walnice Nogueira Galvão, ensaísta e crítica literária, brindou o público com todos os seus conhecimentos de décadas da obra euclidiana. "Euclides viu de perto, pela primeira vez, o povo brasileiro. Viu que o povo brasileiro é mestiço, messiânico, analfabeto, e não os brancos ricos do Rio de Janeiro", afirmou, ao referir-se a Os Sertões durante uma conferência de mais de uma hora, ante uma plateia majoritariamente branca. A ensaísta e crítica literária Walnice Nogueira Galvão, durante abertura da Flip 2019. DIVULGAÇÃO A atualidade da obra que narra a Guerra de Canudos (1896-1897) será debatida até este domingo (14) por 33 intelectuais —sendo 17 mulheres— de 10 nacionalidades, em áreas que vão da sociologia à fotografia e abordando temas como raça, gêner...

Filha busca Justiça histórica para pai, que matou Euclides da Cunha

Foto: Ana Terra/BBC News Brasil Em 1998, depois de lançar um livro sobre seu pai, a escritora Dirce de Assis Cavalcanti deu de cara com uma frase pichada em sua porta ao chegar em casa: "Filha de assassino". Dirce ouviu a frase pela primeira vez quando tinha 11 anos, dita por uma colega no colégio interno, e depois muitas outras vezes ao longo da vida. "Aquela foi a última vez que recebi essa pecha", suspira ela aos 87 anos, em conversa com a BBC News Brasil, em seu apartamento no Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro. Veja entrevista em vídeo. A pecha de assassino acompanhou toda a vida de seu pai, Dilermando de Assis - que entrou para a história como o homem que matou o escritor Euclides da Cunha. O célebre autor de Os Sertões é o homenageado deste ano na 17ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 10 a 14 de julho. A justa homenagem a um dos expoentes da literatura brasileira no evento é, para Dirce, motivo de "preocupação, ...

Invisibilidade de mulheres artistas é tema de revista

Segundo Virginia Woolf em Um Teto Todo Seu, “a mulher jamais escreve sobre a própria vida e raramente mantém um diário – existe apenas um punhado de suas cartas”. A autora refere-se à dificuldade em encontrar obras literárias produzidas por mulheres nas bibliotecas universitárias inglesas. A inexistência da mulher autora ou a invisibilidade feminina nos arquivos também são temas presentes no dossiê Mulheres, Arquivos e Memórias, publicado no número 71 da Revista do IEB, editada pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP e lançada recentemente. Foto publicada na capa da nova edição da Revista do IEB (à esquerda), que discute a invisibilidade de artistas e intelectuais mulheres no Brasil, e imagem de Nísia Floresta, educadora e escritora nascida em 1809 no Rio Grande do Norte – Fotos: Reprodução Revista IEB 71 / USP. O dossiê, organizado pelas professoras Ana Paula Cavalcanti Simioni, do IEB, e Maria de Lourdes Eleutério, da Fundação Armando Álvares Penteado ...

Precisamos ressignificar Clarice Lispector

Querido diário de leitura, parece que não lhe dei atenção neste mês. Não foi por falta de assunto, mas sim de oportunidade de estar em meu teto e poder pensar sobre minhas leituras, minha vida e minhas escolhas. É por isso, afinal, que tenho essa coluna chamada Diário de Leitura. É sobre a leitura de livros, mas também sobre ler-me. O mês foi de mergulhar novamente em Clarice Lispector. Tentei reler alguns romances, não deu certo. Mas funcionou muito bem revisitar alguns de seus livros de crônicas e outros textos difíceis de classificá-los em um gênero textual, o que pouco importa, na verdade. Quando me perguntam sobre os livros de Clarice Lispector que mais gosto, me vem à mente o pouco comentado A maça no escuro. Mas como ele não representa o estilo mais intenso de Clarice e tenho um pouco de dificuldade para explicar porque é o meu preferido, acabo deixando de lado essa primeira ideia e respondo que o meu preferido é A paixão segundo G.H., o que também não deixa de se...

7 Curiosidades Sobre ‘A Estalagem’, Digo, ‘O Cortiço’, Nos 129 Anos da Obra-Prima de Aluísio Azevedo

Neste dia, 13 de maio, o romance O Cortiço (livro 33 da coleção Clássicos Hiperliteratura), de Aluísio Azevedo, completa 129 anos. Para celebrarmos a data, o Hiperliteratura selecionou algumas curiosidades sobre o romance, um dos mais importantes da nossa literatura. 1. Brasileiros antigos e modernos Em outubro de 1885, Aluísio Azevedo anunciou o esboço de um projeto literário ousado nas páginas do periódico A Semana. Ele imaginou um retrato em cinco romances intitulados, no conjunto, Brasileiros antigos e modernos, que abarcariam a sociedade brasileira do Império, desde o seu nascimento até a sua ruína (que ele imaginava próxima). Os cinco livros se chamariam: O Cortiço, A família brasileira, O felizardo,  A loreira,  A bola preta. Deles, apenas o primeiro seria lançado. *** 2. Precursor do marketing editorial no Brasil Pode-se dizer que Aluísio Azevedo foi um precursor, sob diversos aspectos, do Marketing Editorial no Brasil. Além de ser considerado ...