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Mostrando postagens com o rótulo Cultura

Antropofagia

A Antropofagia é um complexo ritual ameríndio de guerra, que envolve vingança e, como derradeira etapa do processo, a ingestão da carne do inimigo virtuoso. A Antropofagia não é canibalismo, porque é uma prática ritualística. O canibalismo, por sua vez, é a antropofagia por fome. Os primeiros relatos no Brasil datam do século XVI. Nas artes, especialmente na pintura e na literatura, o Movimento Antropofágico, nestes termos, surge a partir do encontro/jantar de Tarsila do Amaral, Raul Bopp (1977) e Oswald de Andrade, quando o garçom veio com o prato de rãs em direção à mesa e eles brincaram parafraseando um trecho da obra da Hans Staden, cativo sobrevivente dos Tupinambá, intitulada Duas viagens ao Brasil (2019): “Lá vem nossa comida pulando”. Pouco tempo mais tarde Tarsila pintaria a obra Abaporu – palavra de origem tupi-guarani [aba, homem, pora, gente e ú, comer] que significa “homem que come gente” – , uma das mais célebres pinturas do Modernismo Brasileiro. Em 1928 Oswald de Andrad

A cigarra e a formiga: uma fábula para ensinar às crianças o valor do esforço

 A fábula “A cigarra e a formiga” é uma daquelas histórias que vale a pena partilhar com os mais pequenos de casa. A sua autoria é atribuída a Esopo , mas foi posteriormente recriada por Jean de La Fontaine e Félix María Samaniego . A fábula conta a história de uma cigarra que passa todo o verão cantando enquanto a formiga trabalhava duro para reunir suprimentos para o inverno. Uma história que trata da importância da previsão e do esforço que, sem dúvida, vem a calhar para refletir sobre essa questão com as crianças. Foi um verão muito quente, provavelmente um dos mais quentes das últimas décadas. Talvez por isso a cigarra tenha decidido dedicar as horas do dia a cantar alegremente debaixo de uma árvore. Ela não tinha vontade de trabalhar, só queria aproveitar o sol e cantar, cantar e cantar. Então foi assim que seus dias se passaram, um após o outro. Um daqueles dias uma formiga passou carregando um grão de trigo muito grande, tão grande que mal conseguia segurá-lo nas costas. Ao vê-

Aldir Blanc – ‘O bêbado e a equilibrista’

“Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente A esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha Pode se machucar Azar! A esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista Tem que continuar” – da canção “O bêbado e a equilibrista”, Aldir Blanc e João Bosco em 1979 “E um bêbado trajando luto Me lembrou Carlitos” Os composoitores João Bosco e Aldir Blanc, em 1982 Foto: Luiz A. Barros / Agência O Globo Aldir Blanc e João Bosco – A história de ‘O bêbado e a equilibrista’, hino da Anistia e um clássico da música brasileira Em 25 de dezembro de 1977, morria na Suíça o genial comediante e cineasta inglês Charles Chaplin. No Brasil, o cantor, violonista e compositor João Bosco sentiu a necessidade de homenagear o artista e, entre o Natal e o Ano Novo, começou a rascunhar um samba que remetia ao personagem mais famoso de Chaplin, o vagabundo Carlitos. E aí resolveu chamar o seu parceiro de fé, Aldir Blanc, para pôr letra na sua criação. Só que nas mão

A desconhecida ação judicial com que advogado negro libertou 217 escravizados no século 19

 Em um dia do mês junho de 1869, uma nota no jornal chamou a atenção de Luiz Gama, advogado considerado um herói nacional por seu ativismo abolicionista no século 19. A notícia relatava que a família do comendador português Manoel Joaquim Ferreira Netto, um dos homens mais ricos do Império, estava brigando na Justiça pelo espólio do patriarca, morto repentinamente em Portugal. Ferreira Netto tinha uma grande fortuna: 3 mil contos de réis (cerca de R$ 400 milhões em valores atuais), distribuídos em inúmeras fazendas, armazéns comerciais, sociedade em empresas lucrativas, e centenas de pessoas negras escravizadas em suas propriedades. WIKICOMMONS.  Legenda da foto,  Luiz Gama foi figura-chave no movimento abolicionista brasileiro Em uma linha de seu testamento, publicado em um jornal um ano antes, o comendador fez um pedido comum entre grandes proprietários de escravos da época: depois de sua morte, ele gostaria que todos fossem libertados. A "alforria post mortem" era vista co

Carta às Ancestrais - Portal Geledés

Escrevo essas palavras num mix de emoções… Ao mesmo tempo em que as escrevo sentido o peso do amor, da ternura e da força das minhas ancestrais. Escrevo essas linhas com a sensação de que, em certo ponto, falhamos com nossas Yabás, mas seguimos tentando, lutando e perseverando, regidas pelo espírito delas. Reprodução/ Facebook Awurê Orixá Mesmo confusa sobre o que sentir, escrevo essa carta a elas, certa de que serei ouvida. Nossas ancestrais, que são para nós como grandes Baobás, robustas e indestrutíveis, viveram numa época em que sua força tinha que ser subliminar e sussurrada. Elas, que carregavam em suas memórias, a história do nosso povo e as nossas tradições, não podiam ocupar o seu protagonismo nessas narrativas, mesmo sendo elas as protagonistas. Nossas ancestrais, viveram num tempo marcado pela segregação, racial e de gênero. Viveram num tempo em que eram “o outro do outro”, como pontuado por Grada Kilomba. Mas foram resistentes e pacientes, porque sabiam que, assim como o ma