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Mostrando postagens com o rótulo Filosofia

“Sem os brancos, não é possível superar o racismo”, afirma Silvio Almeida, no Roda Viva

Por Nara Rúbia Ribeiro O jurista, filósofo, escritor e professor Silvio Almeida foi o entrevistado de hoje, 23-06-20 no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Almeida é doutor em filosofia e teoria do direito pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e da Universidade Mackenzie, professor visitante da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e presidente da Fundação Luiz Gama. O jurista é também autor de diversas obras sobre filosofia, racismo e consciência de classe, como o livro “Racismo Estrutural”, que discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira. Para o pensador, “a gente só pode sair dessa grande noite juntos”. O professor nos leva a refletir no quão necessário é que a luta por uma sociedade igualitária e com maior justiça não pertença apenas àqueles que historicamente se encontram em situação desvantajosa, acapachante, discriminados por sua raça. Pelo contrário: a luta humanitária é uma missão e prerrogativa do humano, s

Os gregos não inventaram a filosofia

Sem dúvida, as investigações do nosso grupo de pesquisa têm motivado muitas objeções. Os estudos que realizamos sobre filosofia africana não são inéditos; mas o aumento da circulação de material acadêmico no Brasil que problematiza o nascimento da filosofia na Grécia, trazendo à luz fontes africanas mais antigas que as ocidentais, tem sido motivo de críticas variadas. Objeções que alegam: “filosofia” é um termo grego; outras insistem que só na Grécia Antiga o pensamento ganhou tom laico. Ou ainda, perguntam por que deveríamos “impor” o registro filosófico a outras formas de pensamento de povos da antiguidade fora do mundo helênico. Em resumo, tais questões têm sido acompanhadas de argumentos diversos que dizem algo como: a filosofia nasceu na Grécia, desenvolveu-se dentro da ambiência territorial europeia como uma aventura ocidental do pensamento humano. Não cabe destrinchar cada uma das objeções, tampouco teríamos condições de apresentar o vasto elenco de tréplicas em favor da produçã

"O que é o Homem?", poderia perguntar

"O que é o Homem?", poderia perguntar. Como é possível existir no mundo algo assim que, como o caos, fermenta ou como uma árvore apodrecida, mofa, sem jamais alcançar a maturidade? Como a natureza tolera essa uva extemporânea em seus doces cachos? — Friedrich Hölderlin. Hipérion — ou O Eremita na Grécia. Editora Nova Alexandria: São Paulo, 2003, p. 49. Obra de arte por Paul Rumsey . — com Friedrich Nietzsche in Art e Martin Heidegger in Art . Fonte: Literatus

Franz Kafka e a Metamorfose nossa de cada dia

Aviso: o texto abaixo contém spoilers de A Metamorfose. Primeiro leia e se transforme em um inseto, depois volte “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.” — Franz Kafka em A Metamorfose Que começo, não? Sem nem explicar porquê, como, quando, onde ou como, Franz Kafka nos introduz a sua obra A Metamorfose. Curto e grosso. De certo a história é muito enigmática. São lançadas ao leitor mais dúvidas do que respostas e muitas pessoas acabam o livro perdidas ou pensando “é isso? sério que é só isso?”. Se foi o caso não se sinta mal, certamente não foi o único. Não há como dizer com toda a certeza do mundo quais foram as intenções do autor neste livro. Apenas ele tinha uma ideia clara do que ele queria passar como mensagem em suas palavras, o que deixa aberto a nós, leitores, a possibilidade de criar diversas interpretações distintas da trama. Tratarei aqui de duas que considero ai

Contemplação e Suicídio

Acordei cedo e vi operários chegarem ao canteiro de obras, sob um sol magnífico. Você teria gostado de ver o aspecto peculiar deste rio de personagens negros, grandes e pequenos, primeiro na rua estreita e onde ainda havia muito pouco sol, e a seguir no canteiro. Depois disso me alimentei de um pedaço de pão seco e um copo de cerveja; é uma maneira, recomendada por Dickens àqueles que estão a ponto de suicidar, como sendo particularmente indicada para desviá-los ainda durante algum tempo desse projeto. E mesmo que não se esteja totalmente com essa disposição de espírito, é bom fazê-lo de vez em quando, pensando no quadro de Rembrandt, "Os Peregrinos de Emaús". — Van Gogh. Cartas a Théo . Coleção L&PM POKET: abril de 1997, p. 23. Obra de arte de Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), “Os Peregrinos de Emaús”. Fonte: Literatus

“Um Conto de Natal”, uma releitura de Dostoiévski.

A casa antiga de três andares um dia abrigara uma família de posses, elegante. Quem saberia dizer desde quando havia sido abandonada aos gatos, aos ratos, aos insetos e aos pássaros? Parte do telhado havia cedido e as marcas da umidade que avançava eram visíveis mesmo do lado de fora do imóvel. Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski foi um escritor, filósofo e jornalista do Império Russo. É considerado um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores "psicólogos" que já existiram (Reprodução) Há algum tempo, dizia a vizinhança, uma empresa surgira e apropriara-se do imóvel. Três ou quatro trabalhadores haviam erguido um muro na porta de entrada e cerraram as janelas com tábuas. Pouco importava a deterioração pela qual passava o sobrado, aliás, aparentemente contava-se com que o tempo tudo destruísse, afinal, o que valia era o terreno. Certo dia o sobrado abandonado foi descoberto por um pequeno grupo de desvalidos da sorte que polvilham

O valor dos contos de fadas e a importância de contar histórias

“A alma do ser humano tem uma necessidade inesgotável de que a substância contida nos contos de fada flua em suas veias, da mesma maneira que o corpo precisa de substâncias nutritivas fluindo dentro de si” – Rudolf Steiner- Contar histórias é uma forma antiga de transmitir conhecimentos, valores, fantasias e memórias. Temos feito desde tempos imemoriais. O DNA humano é feito de histórias. Ao longo deste post, que acompanham com citações de figuras respeitáveis sobre os assim – chamados contos de fadas, vamos abordar o significado profundo que eles contêm, bem como o papel importante no desenvolvimento saudável da criança e da criança. Era uma vez… Uma história é uma recriação de imagens através de palavras. As crianças são especialmente sensíveis às histórias, porque vivem em um mundo em que as imagens exercem uma tremenda influência para elas. Durante os primeiros sete anos de vida, a criança ainda não está familiarizada com o pensamento abstrato. A formação de imagens é

Acreditar em Si Mesmo — acender a própria lareira

Em nossos tempos desconfiamos sempre daquele que acredita em si mesmo; outrora, acreditar em si mesmo era suficiente para levar outros a crer na gente.  A receita para obter fé hoje é: "Não te poupes a ti mesmo! Se quiseres que tua opinião seja vista sob uma luz favorável, começa por acender tua própria lareira!". — Friedrich Wilhelm Nietzsche , in O Viajante & Sua Sombra - aforismo 319. Obra de arte por Tim Rayner. Fonte: Literatus

Saramago — egoísmo

Na verdade ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra. — José Saramago, in Ensaio Sobre a Cegueira. Companhia das Letras, pág. 169. Obra de Xue Jiye. Fonte: Literatus