Pular para o conteúdo principal

Erotismo no convento: os poemas eróticos de freiras nos séculos XVII e XVIII

[Postado por Geledés]
No livro “Que Seja em Segredo”, lançado pela L&PM e com pesquisa e introdução de Ana Miranda, reúne escritos de freiras dos séculos XVII e XVIII, cujos conteúdos giram em torno do erotismo e da devassidão.

Se, num primeiro momento, nos soa estranho pensar em freiras escrevendo sobre sexualidade, sexo e erotismo, num segundo momento nos damos conta de que é exatamente este fato que faz do livro uma obra tão interessante. Na época em que foram escritos, os conventos não estavam destinados àquelas que tinham vocação para o trabalho da igreja; quaisquer mulheres com “comportamentos difíceis” ou “inadequados” poderiam ver-se enclausuradas em conventos. Meninas e mulheres tidas como pessoas com “comportamento sexual exacerbado”, bastardas, rebeldes e que perderam a virgindade antes do casamento faziam parte deste grupo que era mandado para o convento no intuito de “endireitá-las”.

Alguns homens iam se encontrar com estas freiras, no próprio convento ou em casas próximas, conforme conta Ana Miranda na introdução do livro:

As religiosas do convento de Santa Ana de Vila de Viana tinham nas proximidades várias casinhas aonde iam, fora de clausura, com pretexto de estarem ocupadas a cozinhar, e recebiam ali homens que entravam e saíam de noite, denunciou em 1.700 o rei, em Lisboa. Nas celas os catres rangiam, os corpos alvos das freiras suavam sob o calor dos nobres, estudantes, desembargadores, provinciais, infantes. Os gemidos eram abafados com beijos.

Os poemas de “Que Seja em Segredo” retratam este ambiente no qual, em plena Inquisição, freiras e diversos homens mantinham relações sexuais. Os poemas são escritos por e para as freiras.

Confira, abaixo, alguns trechos de poemas contidos no livro:

Trecho de Antonio Lobo de Carvalho

Puta dum corno, dos diabos freira,

Eu me ausento, por mais não aturar-te;

Tu cá ficas, cá podes esfregar-te

Com quem melhor te apague essa coceira;

Poeta anônimo

Quando eu estive em vossa cela

Deitado na vossa cama

Chupando nas vossas tetas

Então foi que me lembrei

Linhas brancas, linhas pretas

Trecho de poema de Frei Antonio das ChEagas

Vem a ser que a freirinha

Se enamorou de doutra freira

Mais que mancebo, cá fora

Quis, lá dentro, ter manceba 


Fonte: Nota Terapia

[Matéria original disponível em: http://www.geledes.org.br/livro-reune-poemas-eroticos-escritos-por-e-para-freiras-nos-seculos-17-e-18/]

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Maya Angelou: “Ainda assim eu me levanto”

Maya Angelou, figura extraordinária das letras norte-americanas, foi porta-voz dos anseios e da revolta dos negros. Amiga de Martin Luther King e de Malcolm X, a vida inteira dedicou-se à militância pelos direitos civis de seu povo. Nascendo em Saint Louis – Missouri, partindo de uma infância miserável e cheia de tropeços no Sul profundo, educou-se, para consagrar-se a duas causas: a seu povo e à poesia. Viajou pelo país fazendo campanhas onde fosse necessário; posteriormente percorreria também a África, sempre denunciando a injustiça. Artista polivalente, fez teatro, cinema, televisão, dança. Autora de livros de memórias e assessora de presidentes, soube empunhar a poesia como arma de luta pela emancipação. Selecionamos o mais famoso de seus poemas, verdadeira declaração de princípios que serve como hino de guerra da resistência à opressão e é recitado por toda parte em ocasiões públicas. Desafio ao opressor, reitera o refrão “Eu me levanto”, trazendo para o poema as conotaç

Cinco dias de fúria: Revolta da Vacina envolveu muito mais do que insatisfação com a vacinação

Luana Dandara (Portal Fiocruz) Foram apenas cinco dias, mas marcaram a história da saúde pública no Brasil. No início de novembro de 1904, o Rio de Janeiro, então capital federal, foi palco da maior revolta urbana que já tinha sido vista na cidade.  A Revolta da Vacina deixou um saldo de 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, segundo o Centro Cultural do Ministério da Saúde.  O estopim da rebelião popular foi uma lei que determinava a obrigatoriedade de vacinação contra a varíola. Mas havia um complexo e polêmico panorama social e político por trás da revolta, e diferentes fatores ajudam a explicar melhor os protestos. Dados do Instituto Oswaldo Cruz mostram que, naquele ano, uma epidemia de varíola atingiu a capital. O Rio de Janeiro, aliás, sofria com várias outras doenças (como peste bubônica, tuberculose e febre amarela) e era conhecido no exterior pelo nada elogioso apelido de “ túmulo dos estrangeiros ”. Só em 1904, cerca de 3.500 pessoas morreram na cidade vítimas da varíola, e c

A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão no Brasil

Amanda Rossi e Juliana Gragnani BBC Brasil Há 130 anos, o domingo de 13 de maio de 1888 amanheceu ensolarado no Rio de Janeiro, a capital do Império do Brasil. Era um dia de festa. A escravidão chegava ao fim por meio de uma lei votada no Senado e assinada pela princesa Isabel., O Brasil era o último país da América a acabar com a escravidão. Ao longo de mais de três séculos, foi o maior destino de tráfico de africanos no mundo, quase cinco milhões de pessoas. Grande parte dos descendentes daqueles que chegaram também fora escravizada. “Todos saímos à rua. Todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”, recordou cinco anos depois o escritor Machado de Assis, que participou das comemorações do fim da escravidão, no Rio. Outro escritor afro-descendente, Lima Barreto, completava 7 anos naquele 13 de maio e celebrou o aniversário no meio da multidão. Décadas depois, se lembraria: “Jamais na minha vida vi tanta ale