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Absorvente feito com miolo de pão, muito comum em penitenciárias femininas brasileiras

Absorvente feito com miolo de pão, muito comum em penitenciárias femininas brasileiras. 


A pobreza menstrual que muitas vezes afasta meninas da escola também atinge quem está sob custódia do Estado brasileiro. 

As mulheres, dentro das prisões, por falta de absorventes, passaram a usar miolos de pão para improvisar o utensílio indispensável durante o período menstrual. 

Os relatos foram muito bem colocados no livro "Presos que Menstruam" de Nana Queiroz , um intenso e chocante, mas verdadeiro relato sobre a mulher no cárcere brasileiro. 



A brutal vida das mulheres - tratadas como homens - nas prisões brasileiras. Grande reportagem sobre o cotidiano das prisões femininas no Brasil, um tabu neste país, Nana Queiroz alcança o que é esperado do futuro do jornalismo: ao ouvir e dar voz às presas (e às famílias delas), desde os episódios que as levaram à cadeia até o cotidiano no cárcere, a autora costura e ilumina o mais completo e ambicioso panorama da vida de uma presidiária brasileira. Um livro obrigatório à compreensão de que não se pode falar da miséria do sistema carcerário brasileiro sem incorporar e discutir sua porção invisível.Presos que menstruam, trabalho que inaugura mais um campo de investigação não idealizado sobre a feminilidade, é reportagem que cumpre o que promete desde a pancada do título: os nós da sociedade brasileira não deixarão de existir por simples ocultação - senão apenas com enfrentamento


Conheça a história de Mary Beatrice, mulher negra que inventou o absorvente


Durante sua longa pesquisa para a série de livros ‘Forgotten Women‘ (ou ‘Mulheres Esquecidas’), a escritora Zing Tsjeng descobriu muitas inexatidões históricas sobre invenções que mudaram a sociedade – segundo ela, a maioria foi atribuída a homens. Homens brancos. 

“Houveram milhares de mulheres inventoras, cientistas e tecnológicas. Mas elas nunca receberam o reconhecimento que mereciam”, declarou a autora em um artigo para a Vice. Cada livro terá 48 perfis ilustrados de mulheres da história – o número foi escolhido para refletir o total de vencedoras do sexo feminino do Prêmio Nobel em 116 anos sua de existência. Entre elas, Mary Beatrice Davidson Kenner, mulher negra que inventou o absorvente e cuja história Zing resumiu em seu artigo. 

Nascida em 1912, Mary Beatrice cresceu Charlotte, Carolina do Norte, com genes de inventora. Seu avô materno inventou o sinal de luzes tricolor para guiar trens e, sua irmã,  Mildred Davidson Austin Smith, patenteou o jogo de tabuleiro da família para comercializá-lo. 

Já o seu pai, Sidney Nathaniel Davidson, que era pastor, em 1914, criou um prensador de roupas para fazê-las caber em malas – mas ele recusou uma oferta de uma empresa de Nova York de comprar a ideia por $20 mil. Ele produziu apenas um prensador, que vendeu por $14 e voltou para a carreira como pastor. 

Essa experiência do pai não intimidou Mary Beatrice, que seguiu o mesmo caminho das invenções. Ela acordava de madrugada com ideias de invenções e ocupava seu tempo desenhando modelos e os construindo. Quando ela viu água escorrendo de um guarda-chuva, por exemplo, inventou uma esponja que sugava a água da chuva e mantinha o chão da casa de seus pais seco e o amarrou na ponta de todos os guarda-chuvas da casa. 

Com esse perfil pragmático e “faça-você-mesmo”, Mary Beatrice conseguiu uma vaga na prestigiada Universidade de Howard assim que se formou no ensino médio, em 1931. Mas precisou largar os estudos um ano depois por causa de problemas financeiros. Entre trabalhos de babá e em órgãos públicos, ela continuava anotando ideias para invenções que começaria ao voltar a estudar. 

Em 1957 ela tinha dinheiro suficiente guardado para sua primeira patente: algo que logo descobriu ser importante para assinar suas invenções e não ser apagada da história como muitas mulheres já haviam sido. 

Ela havia criado um cinto para o que chamavam de guardanapos sanitários, bem antes dos absorventes descartáveis. Sua invenção reduzia muitos as chances da menstruação vazar e as mulheres logo aderiram. 



Se inicialmente o que impedia a inventora de registrar patentes era a falta de dinheiro, ironicamente, no futuro, a patente de seu produto custaria centenas de dólares. Mas havia outro problema no caminho: o racismo. 

Em entrevistas concedidas para Zing, Mary Beatrice contou que, mais de uma vez, empresas entravam em contato para comprar suas ideias, mas desistiam quando a reunião presencial acontecia e descobriam que ela era negra.  

Mesmo subestimada e sem nunca ter conseguido voltar para a faculdade, ela continuou inventando durante toda a sua vida adulta e registrou mais de cinco patentes – mais do que qualquer outra mulher americana e negra na história. Mary nunca ficou rica ou famosa por suas invenções, mas ninguém pode negar que são dela – entre elas, o absorvente externo, que melhorou a experiência dos guardanapos utilizados popularmente até o fim dos anos 60. 

Novamente fazendo questão de deixar sua história registrada, ela conseguiu contar tudo a Zing antes de falecer, em 2006. 


Fonte: Iconografia da História / Amazon com hypeness

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