A União Africana, organização que reúne os 55 países do continente, condenou publicamente o tratamento que, conforme relatos compartilhados nos últimos dias, vem sendo dispensado aos cidadãos de países africanos que estão na Ucrânia em guerra.
Muitos deles estariam enfrentando dificuldade para atravessar a fronteira para escapar do conflito, sendo inclusive impedidos de embarcar em ônibus e trens que têm saído das cidades ucranianas com os civis que tentam deixar o país.
"Relatos de que africanos são selecionados para tratamento dissimilar inaceitável são chocantemente racistas e uma violação da lei internacional", diz o comunicado divulgado nesta segunda (28/2), assinado por Macky Sall, presidente da entidade, também presidente do Senegal, e por Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana e ex-primeiro ministro do Chade.
"Nesse sentido, os presidentes pedem que todos os países respeitem a lei internacional e demonstrem a mesma empatia e apoio para todos aqueles que fogem da guerra, independentemente da sua raça."
Algumas horas antes, o governo da Nigéria também havia se manifestado de forma parecida.
"Seja por evidências em vídeo, relatos de fontes primárias e de pessoas em contato com funcionários da diplomacia nigeriana, há infelizes relatos de policiais e oficiais de segurança ucranianos que se recusam a permitir que nigerianos embarquem em ônibus e trens em direção à fronteira Ucrânia-Polônia", diz, no Twitter, a conta oficial da Presidência da Nigéria.
O fio cita um vídeo particular que estaria circulando nas redes sociais de uma mulher nigeriana com um bebê de colo filmada no momento em que teve de abrir mão de seu assento no transporte para outra pessoa.
E menciona ainda um grupo de cidadãos do país que teria sido reiteradamente impedido de entrar na Polônia, sendo obrigado a recuar dentro do território ucraniano para tentar cruzar por outra fronteira, com a Hungria.
"Todos os que fogem de uma situação de conflito têm o mesmo direito de passagem segura sob a Convenção da ONU, e a cor de seu passaporte ou de sua pele não deve fazer diferença", diz a publicação.
Segundo o governo do país, há 4 mil nigerianos na Ucrânia, a maioria estudantes. Há décadas nigerianos e cidadãos de outros países africanos têm viajado para a Ucrânia para fazer faculdade, especialmente de Medicina.
O chefe da diplomacia da África do Sul, Clayson Monyela, destacou que estudantes e outros cidadãos de seu país também vêm sendo "maltratados" na fronteira.
À BBC, um nigeriano identificado como Isaac afirmou ter ouvido dos funcionários na fronteira ucraniana com a Polônia que "não estavam atendendo africanos".
"Fomos perseguidos, atingidos por policiais armados com paus."
O nigeriano Osemen relatou à BBC ter tentado pegar um trem em Lviv para chegar à fronteira com a Polônia, mas foi informado de que apenas ucranianos seriam permitidos a bordo.
Estima-se que mais de 500.000 ucranianos tenham fugido de seu país desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
'Hotel só para ucranianos'
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