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Mostrando postagens com o rótulo História

Considerações sobre a Luta Abolicionista de Joaquim Nabuco

Considerações sobre a Luta Abolicionista de Joaquim Nabuco Jorge Machado Universidade de São Paulo, 1994 Referência.: Machado, Jorge (1994) Estudos JM, n.2 ano 3. Disponível online:  http://each.usp.br/machado/soc/bibliot/machado/abolicionismo.htm "(...) Não tenho, portanto, medo de que o presente volume que eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os que sentem a dor do escravo como se fora própria, e ainda mais, como parte de uma dor maior - a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar - e a coragem de aceitar as consequências desse pensamento - que a pátria, como a mãe, quando não existe para os filhos mais infelizes, não existe para os mais dignos; aqueles para quem a escravidão, da degradação sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que a sofre; por fim os que conhecem a

Estudo destaca o papel da diplomacia de Daomé no tráfico de escravos para o Brasil

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados e o último do Ocidente a abolir formalmente a escravidão. Estima-se que 4,8 milhões de africanos tenham sido transportados para o Brasil e vendidos como escravos. Outros 670 mil teriam morrido no caminho. Transcorridos 133 anos desde a abolição formal, esse elemento decisivo na formação da sociedade brasileira é uma ferida que ainda não cicatrizou. Ilustração extraída do relato do oficial militar inglês John M'Leod, que esteve em Uidá em 1803. A imagem representa o “dadá” do Daomé em uma plataforma para exibição pública (fonte: A voyage to Africa with some account of the manners and customs of the dahomian people, de John M'Leod, Londres, John Murray, 1820) Ao longo de mais de três séculos, três conjuntos de protagonistas combinaram seus interesses para instaurar e efetivar esse negócio abominável: os grandes compradores radicados no Brasil, especialmente ativos nos portos de Salv

Comprando soldados: uma estratégia de recrutamento para a Guerra do Paraguai

Para dar conta do conflito que já durava quase dois anos, o Império do Brasil criou uma Lei que permitia a alforria de escravos em troca de serviço militar – e dinheiro para o “seu senhor”. por Denise Moraes Quase dois anos de guerra já haviam se passado. As forças militares brasileiras, que tinham argentinos e uruguaios como aliados, estavam desorganizadas. Aquele ano fora particularmente difícil para os soldados no front: em abril de 1866 teve início a invasão ao desconhecido território paraguaio. Uma verdadeira guerra de posições. O deslocamento das tropas era demorado e custoso; o Exército brasileiro estava desarticulado. A derrota dos aliados na Batalha de Curupaiti, em setembro, evidenciaria o esgotamento de suas forças. Procissão religiosa durante a Guerra do Paraguai. Fonte: Fundação Biblioteca Nacional, também presente no livro “Guerra do Paraguai – Memórias e Imagens”, de Ricardo Salles. Longe do palco da “Guerra do Paraguai”, as autoridades brasileiras viam o recrutamento en

Africanos estão sendo impedidos de deixar Ucrânia por 'racismo', diz União Africana

A União Africana, organização que reúne os 55 países do continente, condenou publicamente o tratamento que, conforme relatos compartilhados nos últimos dias, vem sendo dispensado aos cidadãos de países africanos que estão na Ucrânia em guerra. Muitos deles estariam enfrentando dificuldade para atravessar a fronteira para escapar do conflito, sendo inclusive impedidos de embarcar em ônibus e trens que têm saído das cidades ucranianas com os civis que tentam deixar o país. "Relatos de que africanos são selecionados para tratamento dissimilar inaceitável são chocantemente racistas e uma violação da lei internacional", diz o comunicado divulgado nesta segunda (28/2), assinado por Macky Sall, presidente da entidade, também presidente do Senegal, e por Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana e ex-primeiro ministro do Chade. "Nesse sentido, os presidentes pedem que todos os países respeitem a lei internacional e demonstrem a mesma empatia e apoio para todo

“A história do Brasil é marcada por diversas experiências de lutas pela terra”

Há algumas semanas, a pesquisadora Alessandra Gasparotto, professora do Departamento de História da Universidade de Pelotas, me escreveu a fim de divulgar seu mais recente livro didático, “História de Luta pela terra no Brasil (1960-1980)”, escrito em parceria com o sociólogo Fabrício Teló, que foi meu colega na Universidade Federal Fluminense (UFF) por volta de 2015, quando ambos fomos professores substitutos na instituição. Imagem extraída do site https://www.campanhacerrado.org.br/ O livro é um projeto fantástico e que está disponível gratuitamente para download. Além de envolvente e bem escrito, ele é cheio de boxes explicativos, fotografias, recortes de jornais e diversos tipos de ilustrações. Embora seja um livro paradidático, isso é, um livro que visa aprofundar os conhecimentos dos alunos sobre um determinado tema visto em sala de aula, “História de Luta pela terra no Brasil” é acessível a todos e todas. Minha ideia inicial era fazer uma notícia divulgando o lançamento, mas o p

A desconhecida ação judicial com que advogado negro libertou 217 escravizados no século 19

 Em um dia do mês junho de 1869, uma nota no jornal chamou a atenção de Luiz Gama, advogado considerado um herói nacional por seu ativismo abolicionista no século 19. A notícia relatava que a família do comendador português Manoel Joaquim Ferreira Netto, um dos homens mais ricos do Império, estava brigando na Justiça pelo espólio do patriarca, morto repentinamente em Portugal. Ferreira Netto tinha uma grande fortuna: 3 mil contos de réis (cerca de R$ 400 milhões em valores atuais), distribuídos em inúmeras fazendas, armazéns comerciais, sociedade em empresas lucrativas, e centenas de pessoas negras escravizadas em suas propriedades. WIKICOMMONS.  Legenda da foto,  Luiz Gama foi figura-chave no movimento abolicionista brasileiro Em uma linha de seu testamento, publicado em um jornal um ano antes, o comendador fez um pedido comum entre grandes proprietários de escravos da época: depois de sua morte, ele gostaria que todos fossem libertados. A "alforria post mortem" era vista co