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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Augusto dos Anjos - o poeta amargo, angustiado e pessimista

O meu nirvana No alheamento da obscura forma humana,  De que, pensando, me desencarcero,  Foi que eu, num grito de emoção, sincero  Encontrei, afinal, o meu Nirvana!  Nessa manumissão schopenhauereana,  Onde a Vida do humano aspecto fero  Se desarraiga, eu, feito força, impero  Na imanência da Idéia Soberana!  Destruída a sensação que oriunda fora  Do tato -- ínfima antena aferidora  Destas tegumentárias mãos plebéias --  Gozo o prazer, que os anos não carcomem,  De haver trocado a minha forma de homem  Pela imortalidade das Idéias!  - Augusto dos Anjos, in "Eu e outras poesias". 42ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. "Ah! Dentro de toda a alma existe a prova  De que a dor como um dartro se renova,  Augusto dos Anjos Quando o prazer barbaramente a ataca...  Assim também, observa a ciência crua,  Dentro da elipse ignívoma da lua  A realidade de uma esfera opaca.  Somente a Arte, esc

Amor, Força e Criação

É bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz –– e o que se faz por amor está bem feito. Quando ficamos admirados com um ou outro livro, por exemplo, tomando ao acaso: “A Andorinha”, “A Calhandra”, “O Rouxinol”, “As Aspirações do Outono” [...] é por quê estes livros foram escritos de coração, na simplicidade e na pobreza de espírito. Se só pudéssemos dizer umas poucas palavras, mas que tivessem sentido, seria melhor que pronunciar muitas que não fossem mais que sons vazios, e que poderiam ser pronunciadas com tanto mais facilidade, quanto menos utilidade tivessem. Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade é digno de amor, e não desperdiçarmos nosso amor com coisas insignificantes, nulas e insipidas, obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes. — Van Gogh. Cartas a Théo. Coleção L&PM POKET: abril de 1997, p. 27. Obra de arte: “O Pintor na Estrada de Tarasco

Contemplação e Suicídio

Acordei cedo e vi operários chegarem ao canteiro de obras, sob um sol magnífico. Você teria gostado de ver o aspecto peculiar deste rio de personagens negros, grandes e pequenos, primeiro na rua estreita e onde ainda havia muito pouco sol, e a seguir no canteiro. Depois disso me alimentei de um pedaço de pão seco e um copo de cerveja; é uma maneira, recomendada por Dickens àqueles que estão a ponto de suicidar, como sendo particularmente indicada para desviá-los ainda durante algum tempo desse projeto. E mesmo que não se esteja totalmente com essa disposição de espírito, é bom fazê-lo de vez em quando, pensando no quadro de Rembrandt, "Os Peregrinos de Emaús". — Van Gogh. Cartas a Théo . Coleção L&PM POKET: abril de 1997, p. 23. Obra de arte de Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), “Os Peregrinos de Emaús”. Fonte: Literatus

“Um Conto de Natal”, uma releitura de Dostoiévski.

A casa antiga de três andares um dia abrigara uma família de posses, elegante. Quem saberia dizer desde quando havia sido abandonada aos gatos, aos ratos, aos insetos e aos pássaros? Parte do telhado havia cedido e as marcas da umidade que avançava eram visíveis mesmo do lado de fora do imóvel. Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski foi um escritor, filósofo e jornalista do Império Russo. É considerado um dos maiores romancistas e pensadores da história, bem como um dos maiores "psicólogos" que já existiram (Reprodução) Há algum tempo, dizia a vizinhança, uma empresa surgira e apropriara-se do imóvel. Três ou quatro trabalhadores haviam erguido um muro na porta de entrada e cerraram as janelas com tábuas. Pouco importava a deterioração pela qual passava o sobrado, aliás, aparentemente contava-se com que o tempo tudo destruísse, afinal, o que valia era o terreno. Certo dia o sobrado abandonado foi descoberto por um pequeno grupo de desvalidos da sorte que polvilham

Nesta rara entrevista, Simone de Beauvoir fala sobre existencialismo, religião, casamento, amor livre

“Penso que amar, de fato, não é querer possuir, mas que amar seja querer criar elos com o outro ser que não são de possessão, no mesmo sentido de possuir uma roupa ou o que comemos.” – Simone Beauvoir. A escritora e feminista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), consagrada por um livro fundamental para o movimento feminista, “O segundo sexo”, um marco teórico do feminismo no século XX, publicado em 1949. Formada em filosofia pela Universidade de Sorbonne, onde conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre – com quem manteve um relacionamento por toda a vida -, De Beauvoir escreveu romances, ensaios, biografias, (e até uma autobiografia!) sobre filosofia, política e questões sociais. Uma mulher atual, pensadora essencial de nosso tempo em suas mais diversas facetas: o existencialismo, a relação com Jean-Paul Sartre, o ativismo político, o feminismo, os romances e a análise sociológica. Beauvoir, continua sendo discu