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Mostrando postagens de julho, 2020

Carta às Ancestrais - Portal Geledés

Escrevo essas palavras num mix de emoções… Ao mesmo tempo em que as escrevo sentido o peso do amor, da ternura e da força das minhas ancestrais. Escrevo essas linhas com a sensação de que, em certo ponto, falhamos com nossas Yabás, mas seguimos tentando, lutando e perseverando, regidas pelo espírito delas. Reprodução/ Facebook Awurê Orixá Mesmo confusa sobre o que sentir, escrevo essa carta a elas, certa de que serei ouvida. Nossas ancestrais, que são para nós como grandes Baobás, robustas e indestrutíveis, viveram numa época em que sua força tinha que ser subliminar e sussurrada. Elas, que carregavam em suas memórias, a história do nosso povo e as nossas tradições, não podiam ocupar o seu protagonismo nessas narrativas, mesmo sendo elas as protagonistas. Nossas ancestrais, viveram num tempo marcado pela segregação, racial e de gênero. Viveram num tempo em que eram “o outro do outro”, como pontuado por Grada Kilomba. Mas foram resistentes e pacientes, porque sabiam que, assim como o ma

Harriet Tubman tem uma frase famosa que diz “Eu libertei mil escravos. E teria libertado mais mil, se soubessem que eram escravos!”.

Já tomou café? Você sabe que é preto? Não, pera! Se dê um pouco de tempo pra pensar nessa pergunta. Harriet Tubman tem uma frase famosa que diz “Eu libertei mil escravos. E teria libertado mais mil, se soubessem que eram escravos!”. Sempre que leio essa frase, me questiono se a gente sabe que ainda é escravo!? Aí você vai me dizer “ Mas Kafunji, hoje em dia não somos mais chicoteados", “ Nós somos livres!”, “Nós somos todos iguais"... você acredita mesmo nisso? De verdade?! Eu fico aqui me perguntando sobre todas as invenções que os branc’os inventaram pra fazer a gente acreditar que isto que vivemos desde a colonização era o único caminho, a única verdade , a única vida. E isso me faz lembrar de um trecho do filme “O nascimento de uma nação”, onde a Dona da Fazenda ao descobrir que o Nat Turner sabia ler, o leva pra casa grande e lhe dá uma bíblia. Ele tenta pegar um outro livro, mas ela o impede dizendo que aqueles não eram para pessoas com o ele e que ele deveria aprender

Quilombos registram uma morte por dia por causa do coronavírus

Por Agência Pública Rafael Oliveira Nos quilombos da região dos Lagos, no Rio de Janeiro, a Covid-19 fez vítima uma das mais importantes figuras quilombolas do estado, região que lidera as mortes entre quilombolas no país: 36 óbitos.  “ Dona Uia era uma biblioteca viva, era a grande liderança que lutava pela questão territorial.  Uma mulher honesta, sincera, que ganhou credibilidade e as comunidades começaram a reivindicar seus direitos ”, conta Jane Oliveira, sobrinha de Carivaldina Oliveira da Costa, a dona Uia. Ela deixou seis filhos, oito irmãos e sua mãe, Dona Eva, a matriarca de 110 anos do Quilombo da Rasa, com quem compartilhava as histórias, os cantos e a memória. Eva, que ainda não sabe da morte da filha, foi testada e o resultado para Covid-19 foi negativo.             André Cypriano            André Cypriano, fotógrafo, registrou cotidiano de Quilombolas em 2008 Conhecida pelo sorriso largo, dona Uia faleceu no último dia 10 de junho, em Búzios, a 170 km da capital fluminen

As pressões britânicas pelo fim do tráfico de escravos

Desde a instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, passando pela independência do Brasil e pelo período regencial, a Inglaterra vinha pressionando para a extinção do tráfico negreiro. Foram mais de trinta anos em que foram assinados acordos e leis – todos ignorados. Nada foi cumprido com total conivência das autoridades brasileiras.  Finalmente, em 4 de setembro de 1850, o Parlamento brasileiro aprovou a Lei no 581, conhecida como Lei Euzébio de Queiróz, que tornava extinto o tráfico de escravos africanos para o Brasil.  A lei foi cumprida.  Seis anos depois, nenhum navio negreiro foi apreendido.  Como explicar essa mudança de atitude? Por que as leis anteriores não foram cumpridas? Que interesse os ingleses tinham na extinção do tráfico negreiro?  O tráfico negreiro na mira dos ingleses  Até finais do século XVIII, o comércio negreiro fora legal e amplamente praticado pelos países europeus envolvidos com a colonização americana: Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda.

A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão no Brasil

Amanda Rossi e Juliana Gragnani BBC Brasil Há 130 anos, o domingo de 13 de maio de 1888 amanheceu ensolarado no Rio de Janeiro, a capital do Império do Brasil. Era um dia de festa. A escravidão chegava ao fim por meio de uma lei votada no Senado e assinada pela princesa Isabel., O Brasil era o último país da América a acabar com a escravidão. Ao longo de mais de três séculos, foi o maior destino de tráfico de africanos no mundo, quase cinco milhões de pessoas. Grande parte dos descendentes daqueles que chegaram também fora escravizada. “Todos saímos à rua. Todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”, recordou cinco anos depois o escritor Machado de Assis, que participou das comemorações do fim da escravidão, no Rio. Outro escritor afro-descendente, Lima Barreto, completava 7 anos naquele 13 de maio e celebrou o aniversário no meio da multidão. Décadas depois, se lembraria: “Jamais na minha vida vi tanta ale